Recomendação - Capitão América: Morre uma Lenda

Fala, galera! Aqui quem fala é o Gimli, pedindo licença pra mais uma recomendação. Espero que gostem!



 Morrer em histórias em quadrinhos sempre foi algo complicado. Enquanto alguns personagens parecem nunca morrer, outros parecem ter sido criados como eternos mártires para suas equipes. Entretanto, a característica básica das mortes em HQ’s é que, não importa como ou quando, aquele defunto irá retornar a vida. A regra básica entre os escritores da Marvel que, embora nunca escrita, norteou a editora por muitos anos é “ninguém fica morto, com exceção do Tio Ben e do Buck” (claro, regras mudam, como já provaram nesta aqui). Porém a queda de um herói sempre cria sua marca no Universo, afetando outros personagens, produzindo mudanças de perspectivas e até inspirando eventos. Como consequência, essas mortes causam em nós, fãs, sensações como angústia e expectativa pela mudança dos personagens que permanecem vivos. E não poderia ser diferente com uma lenda como o Capitão América... 

 Após os eventos de Guerra Civil (que já ta aqui no site, dá uma olhadinha lá!) o Capitão se entrega ao Governo Americano para prestar contas de seus atos de rebeldia contra a Lei de Registro de Super-Humanos. Algemado, o Sentinela da Liberdade sobe as escadas da casa de justiça quando o impensável ocorre: um disparo! No meio do tumulto, o supersoldado cai e, antes que todos percebam, alguém se aproxima e termina o serviço: estava morto o Primeiro Vingador!



 A morte de um ícone como o Capitão é um choque gigantesco em quase todos. Apesar dos recentes acontecimentos, o Capitão é para muitos um exemplo de lealdade, honestidade e dedicação exclusiva a seu serviço de proteção da humanidade. Na tentativa de transparecer o luto pelo ocorrido e mergulhar o fã na individualidade da dor de cada personagem, esta HQ se diferencia de todas as demais por uma escolha estrutural incrível: cada uma das edições relata como uma parte da comunidade super-humana responde a notícia, tendo como nome os cinco estágio do luto definidos pela psicologia moderna - Negação, Raiva, Barganha, Depressão e Aceitação. Dessa forma, mergulhamos na psique de cada herói individualmente e observamos sua forma de resolver problemas, encarar o mundo e lidar com a dor da perda. 

 No primeiro capítulo, intitulado Negação, o rumor da morte do Capitão começa a se espalhar. Como imaginado, tal fato cria estranheza em todos, mas um herói está disposto a esclarecer a dúvida: Wolverine. Utilizando suas habilidades, o carcaju invade o aeroporta aviões da S.H.I.E.L.D. em busca de respostas. Ao encontrar o leito de morte de seu antigo companheiro, Wolverine tem que enfrentar a terrível realidade da morte. A forma como o personagem, que sempre representou a mais completa antítese entre o instinto animalesco e sua vasta filosofia humana (fruto de anos de convívio nas mais diferentes culturas do mundo, garantido por seu fator de cura e longevidade) lida com a situação é incrivelmente representada como um misto de razão e emoção, contemplando assim o constante turbilhão que dita as ações de Logan. Além disso, a presença de um novo rival somente intensifica ainda mais a situação. 

 Já no segundo capítulo, o segundo passo do luto aparece: a Ira. O que aconteceria se os Heróis Mais Poderosos do Planeta, mesmo que por um breve momento e por um motivo justo, se descontrolassem? Motivados pela raiva individualmente, os Poderosos Vingadores respondem a uma ameaça de forma estranhamente violenta e exagerada, mostrando um lado humano que geralmente não vemos presentes em seus embates. Enquanto isso, ainda escondidos da Lei de Registro, os heróis agora pertencentes aos Vingadores Secretos se reúnem para jogar um amistoso jogo de poker. Mas o silencio ameaça a união dos amigos, deixando evidente que a mortalha da morte paira sobre todos ali. Não demora muito para o conflito surgir, quando dois ícones da equipe discordam sobre o presente e o futuro. O que era para ser um momento de proximidade e companheirismo, rapidamente se dissipa, explicitando a fragilidade a que todos estão passando. Ninguém estava preparado para a morte do Primeiro Vingador. 

 Entretanto, nem todos encaram a morte com raiva. Muito racionais e controladoras, tais pessoas não conseguem suportar o fato de não poderem controlar a finitude da vida, e tentam lidar com a perda de forma a excluir suas emoções e compensar suas consequências. Trata-se da Barganha. Neste capítulo, o Homem de Ferro, após ser confrontado por alguém que todos esperavam estar morto, elabora um plano para substituir o Capitão América. O Vingador Dourado acredita que as pessoas necessitam da existência do Sentinela da Liberdade, e, passando por cima de todo e qualquer aspecto ético, ele encoraja seu novo “amigo” a tomar o manto do Capitão. Será que o novo Capitão estará a altura de Steve Rogers, ou será apenas uma bandeira, um escudo e um soldado? 

 No capítulo seguinte, Depressão, temos o momento mais fúnebre de toda a narrativa. O protagonista é um personagem que aprendeu desde o início de sua história o significado da morte. Sua vida heróica sempre foi marcada por perdas, e a morte do Capitão agora é mais uma delas. Com pesar, o jovem Homem-Aranha visita o cemitério onde seu tio e seus pais estão enterrados e relembra os últimos acontecimentos para a comunidade super-heróica e o significado do Capitão América para todos e para si próprio. O Homem-Aranha sempre foi um dos personagens mais cativantes da Marvel pela facilidade de identificação que possuímos com seus dilemas, problemas e confrontos pessoais. A escolha dele para esta fase da narrativa é simplesmente cativante e, de forma quase que mágica, somos envolvidos por sua dor e desilusão que quase acabam por custar sua vida.



 Então chega o derradeiro momento: o sepultamento de Steve Rogers. O antigo herói recebe um grande evento em sua honra, como homenagem aos anos de dedicação ao Governo Americano e a Humanidade. Pode-se dizer que Steve, com sua inspiração, moldou o mundo, e durante este evento, todos dedicam algum período para refletir o impacto daquele homem. O Coisa, Homem Formiga, Vespa, Pantera Negra, Miss Marvel, membros do Comando Selvagem, dos Invasores, Sharon Carter e muitos agentes da S.H.I.E.L.D., soldados da Segunda Guerra Mundial, todos se reúnem em frente ao jazigo sabendo que, de uma forma ou de outra, devem sua vida ao super soldado. O discurso do Falcão consegue transmitir a importância do Sentinela da Liberdade, deixando claro que, apesar das atuais tensões na comunidade super-heróica, TUDO COMEÇOU E ACABA COM STEVE. É o fim de uma era e o começo de outra. Só basta a Aceitação.
Por Giovani Rosa

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